Existe na Malásia, em Kuala Selangor, um lugar turisticamente famoso por ser um santuário de vagalumes. Isso mesmo, as pessoas hoje em dia pagam e viajam grandes distancias para ver vagalumes!
Lembro cada vez com mais saudades de algumas coisas da infancia e a visita a esta reserva me transportou de volta ao tempo em que, à época do Natal, corríamos atrás daquele misterioso insetinho que considerávamos mágico porque piscava. Aliás, o mundo infantil é mais puro, cheio de encantos, de magias que depois com o tempo vamos perdendo, quando crescemos e a cruel escola da vida acaba com a maioria das nossas fantasias e crendices.
Costumávamos associar o Natal a época em que surgiam os vagalumes, aquelas luzinhas piscantes pareciam anunciar que uma época de alegrias, de presentes, de rever parentes e amigos queridos estava se aproximando. Corríamos pelas estradas empoeiradas até altas horas da noite, atrás dos "pisca-piscas". Alguns mais arteiros conseguiam capturar algum vagalume prendendo-o em garrafas de vidro e orgulhosamente exibiam o troféu aos demais, que olhavam abismados aquele miraculoso inseto capaz de produzir luz. Nossos sempre atentos pais nos advertiam que nao maltratássemos aquele bichinho, pois ele era um enviado do Menino Jesus, que vinha mais cedo para investigar quem merecia presente na festa do Natal que se aproximava. Quase que imediatamente o assustado bichinho era novamente solto e todos exultávamos de alegria quando ele, ileso, reiniciava seu errático voo e se juntava aos demais, a piscar sem cessar.
Esse mundo mágico, ou pelo menos essa época mágica que nós tivemos a felicidade de viver tem poucos traços remanescentes hoje em dia. E a culpa é unicamente nossa. Pais cada vez mais ocupados que somos, abdicamos dos nossos filhos em prol da construçao de materialismos, do acúmulo de riquezas vazias. As vezes conseguimos nos justificar de que tudo fazemos pelos nossos filhos, para que eles tenham um futuro mais fácil, quando na realidade tudo o que conseguimos é criar filhos robóticos, mecanicos, sem alma e sem amor. Egocentricos que somos, susbtituimos esse amor por presentes cada vez mais sofisticados, talvez pelo sentimento de culpa por termos sequestrado a Natureza deles. Hoje tudo o que nos resta sao reservas, aonde sao mantidos encarcerados e aonde há que se pagar para ver o que resta da bela e perfeita obra da Natureza, que o egoismo do ser humano desequilibrou completamente.
Sentados no pequeno barco a remo que nos levava próximos as margens daquele pequeno rio em Kuala Selangor, que vez por outra nos aproximava dos arbustos cintilantes de vagalumes, ao mesmo tempo em que nossos olhos se enchiam de lágrimas de encantamento, uma tristeza profunda brotava em nossos coraçoes. A tristeza de saber que, por nossa culpa e por nosso abandono, talvez a vida dos nossos filhos ficasse mais desestruturada se, ao invés dos vagalumes, fossem os videogames exterminados.
Nota:
A localidade rural de Kuala Selangor fica a uma distancia de 1,5 horas de carro da capital Kuala Lumpur e a viagem até lá corta fantásticas paisagens e infinitas plantaçoes de palmeiras, uma vez que a Malásia é um dos maiores exportadores mundiais de azeite de dendê.
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