Wednesday, May 16, 2012

Para que serve um Barômetro?


“Há algum tempo recebi um convite de um colega para servir de árbitro na revisão de uma prova de física que recebera nota zero. O aluno dizia merecer nota máxima. Professor e aluno concordaram em submeter o problema a um juiz imparcial, e eu fui o escolhido.

Barometro Analógico para iates
            Chegando a sala do meu colega, li a questão da prova: “Mostre como se pode determinar a altura de um edifício bem alto com a ajuda de um barômetro.” A resposta do estudante foi a seguinte: “Leve o barômetro até o alto do edifício e amarre uma corda nele; baixe o barômetro até a calçada e em seguida levante, medindo o comprimento da corda; esse comprimento será igual a altura do edifício.”

            Sem dúvida a resposta satisfazia o enunciado e, por instantes vacilei quanto ao veredicto. Recompondo-me rapidamente, disse ao aluno que ele efetivamente havia respondido à questão, mas que a sua resposta não comprovava conhecimentos de física, que era o objetivo da prova. Sugeri então que ele fizesse outra tentativa de responder à questão. Meu colega concordou e, para meu espanto, o aluno também.

            Segundo o acordo, ele teria 6 minutos para entregar uma resposta pronta, demonstrando algum conhecimento de física. Passados 5 minutos ele ainda não havia escrito nada, apenas olhava pensativamente para o forro da sala. Perguntei-lhe se ele desejava desistir, pois eu tinha um compromisso logo em seguida. Mas o estudante anunciou que não havia desistido, que apenas estava escolhendo uma entre várias respostas que concebera.

Medição da pressão atmosférica
(Barometro de Torricelli)
            De fato, em 1 minuto ele me entregou a seguinte resposta: “Vá ao alto do edifício, incline-se numa borda do telhado e solte o barômetro, medindo o tempo t de queda desde a largada até o toque com o solo. Depois, empregando a fórmula h = (1/2) gt2, calcule a altura do edifício.” Neste momento, sugeri ao meu colega que desistisse e, embora contrafeito, ele deu uma nota quase máxima ao aluno.

            Quando eu ia saindo da sala, lembrei-me que o estudante havia dito ter outras respostas para o problema. Não resisti a curiosidade e perguntei-lhe quais eram essas respostas. Ele prontamente disse: Ah! Sim, há muitas maneiras de achar a altura de um edifício com a ajuda de um barômetro. Por exemplo: Em um lindo dia de sol pode-se medir a altura do barômetro e o comprimento de sua sombra projetada no solo. Em seguida mede-se o comprimento da sombra projetada pelo edifício. Depois, aplica-se uma regra de três simples e determina-se a altura do edifício. Um outro método básico de medida, aliás bastante simples e direto, é subir as escadas de um edifício e fazendo marcas na parede, espaçadas da altura do barômetro. Contando-se o número de marcas tem-se a altura do edifício em unidades barométricas. É um método infalível.

            Um método mais complexo seria amarrar o barômetro na ponta de uma corda e balançá-lo como um pêndulo, o que permite a determinação da aceleração da gravidade (g). Repetindo a operação ao nível da rua e no topo do edifício obtêm-se duas acelerações diferentes, e a altura do edifício pode ser calculada com base nesta diferença. Como podem ver, se não for cobrada uma solução física para o problema, existem muitas outras respostas, e sempre com o auxílio do barômetro.

Antigo barometro de mercurio
do Sec. XIX
            A minha resposta preferida à questão, no entanto, é a seguinte: “Bater à porta do zelador do edifício e dizer: Caro Zelador, se o senhor me disser a altura deste edifício, eu lhe darei este barômetro.”


            A esta altura, perguntei ao estudante se ele não sabia qual era a resposta “esperada” para o problema. Ele admitiu que sabia, mas estava farto das tentativas do colégio e dos professores de dizer de que forma ele deveria pensar.”


 Reportagem da Revista Exame, Edição 719 de 26 de Julho de 2000.

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